Nosso lindo mundo

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domingo, 5 de junho de 2011

As cartas de Câmara Cascudo



Luis da CÂMARA CASCUDO, nasceu e faleceu em Natal,
no Rio Grande do Norte. Historiador, pesquisador, profundo
conhecedor de toda a história de seu Estado.Maior
folclorista de todos os tempos. Sua bibliografia é vastíssima.

O hábito de trocar cartas nesses tempos de internet anda meio em baixa. Hoje, poucos têm trocado a instantaneidade das redes sociais e do e-mail para ir até uma agência do correio selar um envelope. Mas, diferentemente das voláteis mensagens eletrônicas, as cartas convencionais guardam uma carga histórica que ultrapassa gerações. Prova disso é o acervo deixado por Câmara Cascudo (1898-1986), que passa por processo adiantado de digitalização: são mais de 15 mil correspondências, entre enviadas e recebidas, que serão disponibilizadas para consulta até o fim do ano pelo Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo.

Em ótimo estado de conservação, as cartas compartilham recorte significativo da memória brasileira e realçam os laços de amizade entre Cascudo e figuras do quilate de Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Assis Chateaubriand, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Alberto Maranhão, Augusto Severo, Café Filho e Dom Pedro III (neto da Princesa Isabel e Conde D'Eu), entre outras personalidades políticas, intelectuais e escritores famosos. Há cartas dos cinco continentes, em diversos idiomas e todo o acervo bibliográfico ultrapassa os 40 mil volumes.

"São fotografias, plaquetes, correspondências, livros e panfletos cuidadosamente guardados pelo meu avô", disse Daliana Cascudo, responsável pelo Instituto instalado na casa onde o professor, historiador e pesquisador morou.
Missivista de mão cheia, Cascudo passou a trocar cartas em meados da década de 1920, e o cuidado com que eram arquivadas permitiu um alto grau de conservação: "Apenas 0,0000001% de todo o acervo precisa de restauração, Cascudo guardava tudo, inclusive o envelope, entre papéis de seda", verifica o restaurador Woldney Ribeiro de Souza. "Então, além da importância histórica do conteúdo das cartas, os envelopes também podem desdobrar pesquisas sobre o serviço postal, sobre selos", acredita Ribeiro.
Entre as curiosidades, Woldney destaca a presença de timbres e brasões de família em envelopes e papéis de carta; o papel sempre colorido das correspondências enviadas por Mário de Andrade; uma carta do presidente da Walt Disney do Brasil, agradecendo as dicas passadas por Cascudo; manuscritos de Dom Pedro III; e as cartas iconográficas do artista português de Angola Albano Neves e Souza, que o potiguar conheceu durante viagem à África: "Imagine que há envelopes de Albano Neves endereçados apenas com a caricatura de Cascudo, e as cartas chegavam. Sobre Walt Disney, podemos especular que as pesquisas de Câmara Cascudo possam ter contribuído para a criação do Zé Carioca e de outros tipos brasileiros", arrisca o restaurador, que ainda encontra cartas não catalogadas, desconhecidas da família, no meio dos livros que passam por trabalho de recuperação. "Ele sabia que este acervo seria útil para futuras gerações", garante.

 
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO(1898-1986), um
dos mais respeitados pesquisadores do folclore e
da etnografia, no Brasil. Na foto, Câmara
Cascudo, em uma de suas viagens à África.

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